Crianças, sedução e violência!


Crianças, sedução e violência!


No final do século XIX e início do século XX, Freud chocou a comunidade científica e a sociedade vienense afirmando que existia sexualidade na infância. Muitos, ainda hoje, acham estranho pensar em crianças e sexualidade em uma mesma equação. No entanto, o que é necessário lembrar é que o tipo de sexualidade existente na infância não é aquela que o adulto irá exercer.

A criança ainda não possui um corpo físico capaz de levar a cabo as exigências de uma sexualidade adulta, no entanto, o seu corpo possuí terminações nervosas, desde cedo estimuladas pelo toque dos cuidados que os adultos possuem para com elas, portanto, já conseguem diferenciar o que é prazeroso e o que não é. Esta diferenciação se dá apenas no nível do prazer e desprazer físico, ainda não existe a conotação sexual tal qual na idade adulta.

SándorFerenczi, psicanalista, já dizia em 1932, que as crianças tendiam a perceber certas situações vividas com os adultos como uma relação de ternura, segundo ele, fantasmas lúdicos de manter um papel cuidador para com uma figura de amor. No entanto, o que é entendido como ternura pela criança, é vivenciado pelo adulto com predisposições psicopatológicas como ato erótico, ou seja, eles confundem os desejos infantis com os desejos sexuais de uma pessoa adulta com plena maturidade sexual. É o que Ferenczi chamou de confusão de línguas e que pode vir a ocasionar um traumatismo no desenvolvimento infantil.

Neste tipo de sedução, a criança, em um primeiro momento, poderá pensar em relutar e dizer não. Contudo, frente à autoridade do adulto (muitas vezes são os próprios parentes ou pessoas próximas que fazem o ato violento) submetem-se e acabam por identificar-se com o agressor e a vivenciar culpa pelo ato cometido. Uma das coisas que podem ocorrer é a criança passar a duvidar dos seus próprios sentidos, pois se tornam inocentes e culpadas pelo ato vivenciado. 

Por vezes, o adulto tenderá a esperar que ela não lembre ou não entenda o que ocorreu e passe a ter atitudes religiosas rígidas para contornar o dilema moral em que se encontra. Contudo, não podemos descartar o ato sexual que ocorre explicitamente de forma violenta, violando o corpo da criança de tal forma que esta passa a temer o toque e o contato de outras pessoas.

De qualquer forma, o tema aqui abordado possui vários desdobramentos e, fica óbvio que em qualquer um dos casos, seja a sedução ou a violência sexual propriamente dita, formas diferentes de trauma no desenvolvimento psicossexual infantil irão ocorrer. 

Por isso, cabe aos pais tomarem cuidados de como lidam com a sexualidade de sua criança e desde cedo orientarem sobre como proceder frente a um adulto que queira tocar em seus órgãos sexuais ou que peça para ser tocado em seus genitais. Nestes casos, a prevenção é a melhor saída; e, caso se observe ou se desconfie de algo, procurar ajuda psicológica e afastar a criança do convívio do agressor, buscando os caminhos legais para lidar com o mesmo.

Rosario Câmara – CRP 02/15296