Crianças e castigos



Crianças e castigos
(Por Rosario Câmara em 14 de outubro de 2019)

Atualmente alguns pais ficam confusos na hora de impor limites e dar castigos aos seus filhos. Afinal de contas, a partir de qual idade a cadeira do pensamento pode ser um bom castigo? Ou seria melhor proibir algum brinquedo? Ou algumas chineladas? Mas e a Lei da Palmada? Ou seria melhor dizer que Papai do Céu castiga e não vai abençoar? E, até mesmo, se for uma criança má o Papai Noel não irá trazer presentes. São tantos profissionais e dicas de como cuidar dos filhos e sempre tem alguém dando um palpite ou dizendo que você está errado que a cabeça dos pais podem virar uma bagunça generalizada e deixá-los inseguros e por isso sem a força necessária para que os filhos entendam que eles sabem o que estão fazendo.

O que as crianças precisam é que os adultos saibam que eles são os adultos e eles que mandam. Sabe aquela história do macho alfa da matilha canina é quem dá as ordens? É quase a mesma coisa. As crianças, quando aprendem a andar, começam a explorar o ambiente e por isso testam suas mãozinhas, pezinhos e língua em tudo que achem interessante.Cabe aos pais estarem atentos para que acidentes não ocorram e dizer o que eles não podem fazer. O ideal é estar na mesma altura da criança e conversar, ajudando a explorar e conhecer os objetos e, caso seja necessário, explicar que não podem fazer sozinhas ou mexer sozinhas naquilo ali.

Quando elas vão crescendo e chegando aos três, quatro anos de idade, elas começam a compreender a diferença entre sim e não, além de conseguirem compreender um pouco melhor o tempo de espera, mesmo que não consigam ainda passar muito tempo focadas em uma única atividade. É também quando começa o controle do esfíncter e elas começam a ter um pouco mais de noção de que o que elas fazem afetam o ambiente e as pessoas ao seu redor. Mordidas, beliscões e testes de limites, assim como crises de birras são bem comuns. Algumas pessoas tentam utilizar a cadeirinha do pensamento já nessa idade, mas elas ainda são muito pequenas e precisam da ajuda do adulto para compreender o que estão sentido e os limites do que estão fazendo, afinal de contas não vamos deixar a criança enfiar o dedo na tomada, só porque ela quer brincar com aquilo, não é? Ou deixá-las morder os amiguinhos e puxar o rabo do gatinho só porque caso contrário elas vão chorar ao não conseguirem o que querem.

A vida é assim: precisamos constantemente aprender a lidar com as frustrações. Equilibrar o que queremos fazer com o que podemos fazer é uma arte ensinada de pais para filhos. E tudo o que as crianças precisam é que os adultos lhes deem segurança para que elas possam explorar os limites, serem elas mesmas e saberem que os pais não vão deixar que elas se machuquem só porque elas querem. O que os adultos precisam compreender é que não dá para passar pela vida sem marcas. As dores e o sofrimento fazem parte da vida tal qual as alegrias e a felicidade. À medida que os filhos vão crescendo, os pais precisam ir se adaptando, percebendo o quanto o seu filho já pode decidir por ele mesmo o que ele aguenta e quais os seus limites. Por isso, talvez, apesar de castigos às vezes serem necessários, o mais importante é o diálogo, explicar por que não pode, ouvir e compreender as razões dos filhos, argumentar e negociar o que é possível fazer em cada idade.